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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Nippon Steel não descarta cláusula de saída na Usiminas, mas rejeita "roleta russa"

SÃO PAULO - A Nippon Steel não descarta iniciar negociações com a Ternium a respeito da criação de uma cláusula de saída no acordo de acionistas da Usiminas, mas rejeita a opção aventada pela sócia sobre um mecanismo de leilão em que o sócio que pagar mais fica com a participação do outro na siderúrgica brasileira, conhecida como "roleta russa".

"Esta opção proposta pela Ternium é muito estranha para nós. Seria como fazer preparativos para um casamento, mas ao mesmo tempo conversar sobre separação", disse o presidente da Nippon Steel & Sumitomo Metal do Brasil, Hironobu Nose, em entrevista a jornalistas nesta terça-feira. Os comentários do executivo foram feitos em japonês e traduzidos para a língua portuguesa por um intérprete da companhia japonesa.

"Como a Usiminas está numa situação bastante difícil, achamos que o melhor é discutirmos como tirar a empresa disso", disse o executivo. Até o final de setembro passado, a Usiminas acumulava um prejuízo em 2016 de 382 milhões de reais, após prejuízo no mesmo período de 2015 de 2 bilhões de reais. A empresa chegou a correr risco de ficar inadimplente com credores no ano passado, mas conseguiu um acordo com bancos para adiar vencimentos para os próximos anos.

A entrevista ocorreu depois que a Usiminas divulgou na semana passada um longo comunicado sobre tentativa de acordo entre os dois sócios realizada em dezembro, em que a Nippon Steel propôs alternância de indicação para os postos de presidente-executivo e de presidente do conselho de administração da siderúrgica brasileira.

A proposta foi rejeitada pela Ternium, que defende sua aceitação mediante a inclusão no acordo de acionistas da Usiminas de uma cláusula que permita a saída de um dos integrantes do grupo de controle em situações como a que siderúrgica vive desde pelo menos 2014, de desentendimento entre os dois sócios. O mecanismo proposto pela Ternium seria o da roleta russa.

Segundo Hironobu, a preocupação atual é da Nippon Steel é por encontrar uma solução o mais rápido possível para a briga entre o grupo japonês e a Ternium que está gerando para a Usiminas "problemas por causa da falta de consenso" dos sócios.

"Não estamos falando que não existe possibilidade de negociação para finalizar esta joint venture, mas o que é importante nestas horas seria quando faremos as negociações e o conteúdo das negociações", disse Hironobu, sem mencionar qual seria a preferência da Nippon Steel para uma cláusula de saída.

Segundo ele, a Nippon "já deixou muito claro que não tem a menor intenção" de sair da Usiminas. Ele negou que a companhia japonesa tenha feito alguma oferta para comprar a participação da Ternium da Usiminas.

Questionado se a Nippon poderia fazer uma oferta mais adiante pelas ações da Ternium no grupo de controle da Usiminas, Hironobu afirmou que "não podemos falar que não existe esta possibilidade (...) Se houvesse esta negociação não teríamos a discussão desta cláusula de saída", disse o executivo.

"Mas, implementando a cláusula de saída proposta pela Ternium, o valor das ações (da Usiminas) subiria a um patamar absurdo e não se resolveria nada porque nenhuma das partes poderia explicar a seus próprios acionistas por que pagar um valor tão alto", disse Hironobu.

Às 13:38, as ações da Usiminas exibiam queda de 0,42 por cento, cotadas a 4,76 reais. No mesmo horário, o Ibovespa mostrava valorização de 0,56 por cento.

Hironobu não comentou se uma eventual adoção de um mecanismo que permita a saída de um dos sócios do grupo de controle dispararia direito de tag along para os acionistas minoritários da Usiminas.
O principal objetivo do tag along é proteger o acionista minoritário em caso de troca de controle de uma empresa. Por este mecanismo, o comprador da participação de controle tem que oferecer ao restante dos acionistas ordinaristas um valor mínimo de 80 por cento em relação à quantia proposta para a aquisição das ações do controlador.

A CSN, maior acionista minoritária da Usiminas, reclama na Justiça desde 2011 o direito de receber tag along por conta da entrada da Ternium no grupo de controle da Usiminas naquele ano.

OFERTA MÁXIMA

O presidente da Nippon Steel no Brasil frisou que a oferta máxima do grupo japonês para tentar resolver o conflito com a Ternium sobre o comando da Usiminas seria a alternância de presidente-executivo e presidente de conselho entre ambos os sócios.

O prazo de mandato seria discutido posteriormente, disse Hironobu, negando que a Nippon Steel teria proposto prazo de dois anos para haver a alternância.

Atualmente, não há mecanismo de solução de controvérsias no acordo de acionistas da Usiminas e todas as decisões para os postos máximos da empresa precisam ser tomadas por consenso.

A Ternium defende a saída do presidente-executivo da Usiminas, Rômel Erwin de Souza, indicado pela Nippon Steel. O presidente do conselho da siderúrgica é Elias Brito, indicado pela Ternium.

Para o lugar de Souza, a Ternium defende a nomeação do diretor comercial da Usiminas, Sergio Leite, que chegou a ocupar a presidência da empresa por alguns meses do ano passado antes da Justiça de Minas Gerais reverter uma decisão do conselho de administração que havia decidido por sua nomeação.

Segundo Hironobu, se a Ternium aprovasse a alternância, a Nippon aceitaria que Leite assumisse a presidência-executiva da Usiminas já a partir de maio deste ano e que Souza passasse ao posto de presidente do conselho.

"Foi uma grande concessão aceitar o Sergio Leite como primeiro presidente-executivo dentro desta nova regra. Para resolver a disputa, estamos fazendo esta concessão para a Ternium", disse o presidente da Nippon Steel do Brasil.

Fonte: DCI/Reuters