Desde a década de 1980, o Japão passou a receber centenas de milhares de brasileiros, enviados para trabalhar nas fábricas do país asiático. Dois desses imigrantes foram os pais de Diego Utiyama, paulista de 29 anos. No entanto, ao contrário dos pais, Utiyama ganha a vida como empreendedor: ele e sua esposa, a mineira Aline Sakamoto Utiyama, 27, fundaram a Amora.jp, um e-commerce de sapatos brasileiros voltado exclusivamente para estrangeiros que moram no Japão.
Utiyama está no Japão desde 1998. “Vim para acompanhar meus pais, que buscaram melhores condições de vida aqui”, afirma.
Ele estudou em uma escola para imigrantes brasileiros até o ensino fundamental. “A escola era particular e o ensino aqui é bem caro. Por isso, eu me sentia desconfortável em ver meus pais trabalhando muitas horas por dia em um serviço pesado para me dar uma boa educação. Logo no primeiro ano do ensino médio, larguei a escola.”
Depois dessa decisão, Utiyama trabalhou em uma fábrica até os 20 anos. Na época, conseguiu mudar de emprego e virou assistente de recursos humanos.
A partir daí, a carreira do brasileiro começou a mudar. “Adquiri experiência em recrutamento, treinamento e seleção de talentos. Também concluí o ensino médio via supletivo”, afirma Utiyama. Em 2012, recebeu uma proposta para ser headhunter.
Por mais que atuasse no setor de RH, Utiyama sempre acreditou que o e-commerce fosse uma boa oportunidade de negócio. “É um mercado de muito potencial. As pessoas estão cada dia mais confortáveis em comprar pela internet.”
A ideia de vender os sapatos veio de Aline. A esposa de Utiyama sempre gostou de sapatos brasileiros, mas não encontrava as marcas que gostava no Japão. Foi aí que, em agosto de 2015, surgiu a Amora.jp.
O e-commerce vende sapatos, botas, sandálias, chinelos e outros calçados de marcas como Beira Rio, Dakota, Moleca e Vizzano, dentre outros. A Amora.jp tem acordos de exclusividade com essas fabricantes no Japão.
Metade do público da loja é composto por clientes brasileiras e 30% das compras são feitas por estrangeiras. Segundo Utiyama, não é só a qualidade dos calçados que atrai a clientela. “Oferecemos produtos para mulheres que calçam números grandes para os padrões japoneses, do tamanho 38 ao 40”.
De acordo com Utiyama, o tíquete médio do site é de 5 mil ienes (R$ 140 na cotação atual). Neste ano, a empresa deve faturar 30 milhões de ienes (R$ 981 mil). “Só em 2016, mudamos duas vezes para centros de distribuição maiores e contratamos novos colaboradores”, diz ele.
Com relação ao futuro da Amora.jp, Utiyama espera, no curto prazo, aumentar a variedade de produtos e marcas do site, bem como seu faturamento.
Missões
Além da Amora, Utiyama tem outro projeto: a Spotted Recruit, uma empresa de recrutamento e seleção de talentos. A empresa foi fundada em junho deste ano. Na época, ele largou o emprego de headhunter e se dedicou totalmente às duas empresas.
O projeto é voltado para startups de tecnologia. “Quero que a empresa seja reconhecida não só como uma recrutadora, mas como uma fomentadora do empreendedorismo”, diz.
Segundo Utiyama, outra de suas missões é impactar positivamente na vida de outros brasileiros que moram no Japão. Para auxiliá-lo neste objetivo, o empreendedor criou o Meufuturo.jp, uma fanpage no Facebook com dicas de empreendedorismo e motivação. “Quero ajudar brasileiros que sonham com uma carreira fora das fábricas”, afirma.