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segunda-feira, 14 de março de 2011

Japão deve voltar à recessão e iene forte agrava pressões

A economia japonesa parece estar catatônica em meio às consequências do terremoto, do tsunami e da crise nuclear da última semana, desafiando as previsões de analistas que apostam numa rápida recuperação puxada pelos trabalhos de reconstrução.

Depois da perda de trilhões de dólares do mercado acionário e com a valorização do iene, que dificulta a atividade dos exportadores, muitos economistas já consideram que um declínio prolongado será inevitável.

"O Japão vai cair em uma recessão temporária", escreveu em nota Susumu Kato, economista-chefe do Credit Agricole para o Japão. Ele estima que o PIB irá se contrair neste trimestre e no próximo, perfazendo três trimestres consecutivos de contração.

Ele estimou que o terremoto e o tsunami de sexta-feira reduziriam em 0,6 ponto percentual o crescimento no primeiro trimestre, e em até 1,5 ponto percentual no segundo.

Kato previu que o PIB real no primeiro trimestre registrará queda de 0,4% ante o trimestre anterior, e que no segundo trimestre a queda será de 1,2%.

Depois disso, a economia deve ser alimentada com os gastos relacionados à reconstrução, mas mesmo assim pode ficar estagnada no ano fiscal de 2011. A exemplo de muitos outros analistas, Kato sugeriu que os prejuízos podem alcançar 15 trilhões de ienes (US$ 188 bilhões), ou cerca de 3% do PIB.

Embora um país tão rico como o Japão seja capaz de suportar esse prejuízo, ele representará uma terrível perda de riqueza. "Terremotos não só contêm a demanda efetiva, via consumo e investimentos, como também reduzem o crescimento potencial, por causa de danos em termos de capital tangível imobilizado e capital humano", disse Kyohei Morita, do Barclays Capital, em uma nota aos clientes.

Muito maior do que os prejuízos da catástrofe propriamente dita foi a perda de valor de capital das empresas nas bolsas, que chegaram a superar os US$ 600 bilhões na terça-feira.

Somando-se às preocupações sobre o impacto econômico da catástrofe, o iene disparou para níveis recordes ante o dólar mais cedo nesta quinta-feira, tornando as exportações japonesas ainda menos competitivas - justamente quando o país contava com um aumento das exportações para alimentar sua recuperação econômica após a crise de 2008.

Outra incerteza para os analistas está relacionada à crise na usina nuclear de Fukushima, com o subsequente desabastecimento energético para empresas e domicílios.

Kato, do Credit Agricole, previu também uma redução na confiança e nos gastos dos consumidores. "O racionamento energético também irá pesar sobre as atividades econômicas das pessoas afetadas", acrescentou.

Cerca de 10% da capacidade total de geração da usina foi paralisada, e vários reatores podem ter sido perdidos para sempre. Nesse cenário, o racionamento pode durar meses.

"As empresas também enfrentam uma incapacidade de assegurar os componentes e matérias-primas necessários", acrescentou Tom Taylor, economista do National Australia Bank. "É difícil saber quanto tempo essas perturbações irão durar - mas elas são um fator adicional para puxar o PIB para baixo."

Fonte: Reuters