São Paulo - O economista Heizo Takenaka, ex-ministro de finanças do Japão, está na linha de frente do debate sobre a nova política econômica do primeiro-ministro Shinzo Abe, batizada de “abenomics”.
Para ele, além de continuar injetando dinheiro na economia, é necessário avançar em reformas impopulares, como a mudança das leis trabalhistas. “Isso tornaria a economia japonesa mais dinâmica”, disse Takenaka, por telefone, de Tóquio.
1) EXAME - O Japão conseguirá sair da espiral deflacionária, a contínua queda de preços que inibe o consumo?
Heizo Takenaka - Temos uma boa chance, com a política monetária adotada pelo premiê Shinzo Abe. Já vemos sinais de que a deflação está sendo controlada. Com sorte, chegaremos em dois anos à meta do governo de 2% de inflação anual.
2) EXAME - O iene perdeu 20% do valor frente ao dólar no último ano e beneficiou os exportadores. Qual é o efeito da desvalorização na atividade econômica?
Heizo Takenaka - A desvalorização do iene já aumentou, de maneira indireta, a confiança no futuro da economia. Acredito que o iene ainda vai cair mais. A bolsa já subiu 35% neste ano porque os resultados das empresas, principalmente as exportadoras, melhoraram.
As pessoas ficam mais confiantes quando o mercado acionário sobe, porque grande parte da poupança delas está na bolsa. Estou otimista, acho que poderemos ter um crescimento de 1,5% a 2,5% no ano que vem. É desejável que o Japão contribua para a recuperação da economia mundial. Será uma contribuição modesta, mas contínua.
3) EXAME - Muitos argumentam que o sucesso da “abenomics” depende de reformas estruturais que ainda não foram feitas. O senhor concorda?
Heizo Takenaka - Sim. Precisamos ter uma estratégia para fazer todas essas reformas e vencer grupos de interesse poderosos.
4) EXAME - Esse processo não está excessivamente lento?
Heizo Takenaka - Não. O governo vai reduzir os impostos sobre as empresas no ano que vem para tentar estimular as companhias a dar reajuste salarial e compensar o aumento de impostos sobre consumo. Depois disso, é preciso mudar a legislação trabalhista, que é muito inflexível e limita demissões, principalmente no setor industrial.
5) EXAME - A mudança da lei trabalhista será a batalha mais difícil entre todas essas?
Heizo Takenaka - A negociação será dura. Para a reforma sair, o governo precisa convencer a opinião pública de que está no rumo certo para o país. Estamos tentando ajudar o primeiro-ministro a criar uma estratégia para isso no Conselho de Competitividade Industrial. Também é importante o tratado de livre comércio com os Estados Unidos.
6) EXAME - Quais são as outras áreas que precisam mudar?
Heizo Takenaka - O primeiro-ministro escolheu alguns setores como prioritários para mudança de regulação, como o agrícola, que é excessivamente protegido, e o de serviços médicos.
7) EXAME - O governo vai criar zonas econômicas especiais com legislação mais flexível. Como isso vai ajudar?
Heizo Takenaka - Será importante para mostrar os efeitos das mudanças. Se a população vê histórias de sucesso nessas zonas econômicas, o apoio para as reformas tende a aumentar.
Fonte: Revista Exame