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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma mexida no câmbio "estilo osaka"


Podem anotar uma vitória, ou algo do tipo, para a Sharp e a Panasonic. Em agosto, Masaaki Shirakawa, presidente do Banco do Japão, autoridade monetária do país, em visita a Osaka, cansou de tanto ouvir representantes de fabricantes japonesas de bens eletroeletrônicos sobre o rápido declínio de suas operações.

A força do iene estava matando seus negócios, lhe disseram. A indústria japonesa precisava de algum alívio diante do implacável ciclo de quedas nos lucros, na demanda e na criação de empregos.

A mensagem parece ter sido captada. A decisão de ontem do Banco do Japão de elevar seu programa de compras de ativos em 10 trilhões de ienes (US$ 128 bilhões), embora retocando as regras para facilitar que se chegue a um total de 80 trilhões de ienes até o fim de 2013, foi bastante notável, especialmente em um momento em que a maioria do mercado não esperava nenhuma ação.


O que muitos observadores também notaram, em especial, foi um novo item na lista de grandes riscos do Banco do Japão: "os impactos dos desdobramentos financeiros e no mercado de câmbio sobre os preços e a atividade econômica". Tradução: um iene alto prejudica o Japão.

"Tudo isso se trata da moeda", disse Shogo Fujita, estrategista-chefe de bônus japoneses no Bank of America Merrill Lynch, em Tóquio.

Se o Banco do Japão quisesse impulsionar o mercado acionário, poderia comprar ETFs, como são chamados os fundos negociados em bolsa como se fossem ações. Se quisesse reduzir o rendimento dos bônus de longo prazo, poderia comprar papéis com vencimentos mais distantes.

Em vez disso, vai gastar um volume adicional equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em notas de curto prazo e em bônus de até três anos - que é a parte do mercado de títulos mais relacionada ao câmbio. Eleve os preços desses papéis e, em teoria, o iene desvaloriza-se em relação ao dólar.

"O objetivo foi depreciar o iene, comprar tempo", afirmou Fujita. A mudança de direção é significativa, em dois aspectos. Primeiro, indica que o Banco do Japão tem consciência cada vez maior da necessidade de tentar acompanhar o ritmo da flexibilização monetária aparentemente interminável do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu (BCE).


Na semana passadas, nos minutos que se seguiram à declaração de Ben Bernanke, presidente do Fed, de que continuaria a imprimir dinheiro até que houvesse uma criação suficiente de empregos no país, o iene valorizou-se em relação ao dólar, para depois recuar um pouco. Talvez o Banco do Japão, sob ordens do governo, tenha enviado sinais de que intervirá. Talvez não. O episódio, de qualquer forma, evidenciou o poder da autoridade monetária para influenciar a moeda.

Segundo, a nova linha assumida pelo iene indica que Shirakawa, cujo mandato de cinco anos acaba em abril, está de olho no que deixará como legado. Anteriormente, o presidente sustentava que as vantagens e desvantagens da força do iene estavam bastante equilibradas. Embora o argumento tenha muito a ser aplaudido - um iene mais forte significa, por exemplo, combustíveis mais baratos - não há sentido em que o presidente o sustente, se com isso ameaçar a estimada independência do banco central.

O Japão está próximo de eleições em que o principal partido de oposição - o Partido Liberal Democrático (PLD) - tem todas as chances de vencer. Uma de suas promessas pode incluir anular a lei que rege o Banco do Japão e tornar seu conselho mais dependente do governo, caso o banco central falhe em estimular o crescimento.

Pode ser demasiado esperar o surgimento de uma nova perspectiva sobre a interação entre política monetária e mercado de câmbio para reanimar o coração industrial do Japão. Mas é possível dizer que qualquer ação prolongada para enfraquecer o iene tenha se originado em Osaka.

Fonte: Financial Times