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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Banco do Japão pode seguir Fed e BCE em afrouxamento


Em meio a tensões geopolíticas com a China por conta da disputa das ilhas Senkaku (ou Diaoyu, para os chineses), o Japão decide hoje se altera seu programa de compras de ativos.

Havia um consenso entre os analistas de que qualquer aumento do programa - hoje em 70 trilhões de ienes (US$ 890 bilhões) - só viria em outubro, quando o Banco do Japão divulgará suas novas projeções para a economia. Mas com os anúncios de novos QEs (afrouxamento monetário) na zona do euro e nos Estados Unidos, a pressão sobre o governo japonês para que se mova na mesma direção vem crescendo.

Na zona do euro foi criado o OMT, programa de compras ilimitadas de títulos soberanos no mercado secundário, totalmente esterilizadas. Nos EUA, um novo programa de MBS - compras de títulos hipotecários também, em tese, ilimitado, de valor mensal de US$ 40 bilhões. Isso tudo somado à "operação Twist", que contempla mais US$ 45 bilhões ao mês até dezembro na venda de títulos de curta maturidade e na compra de longos. O objetivo claro é manter as taxas de juros longas em níveis baixíssimos e, desta forma, estimular a demanda. Ocorre que o dólar, nesse ambiente, sofre (desejáveis) desvalorizações frente às demais moedas, iene incluso.

A pressão de valorização do iene aumentou sobremaneira, atingindo em cheio as exportações japonesas em um contexto de desaceleração da demanda global. A moeda está cotada a 78,4 ienes por dólar, 3,4% acima do ponto que deflagrou a última intervenção do Banco do Japão (BoJ) no mercado de moedas, em outubro de 2011.

Por outro lado, a economia vem andando a passos mais lentos do que se esperava, o que ficou evidente na revisão do PIB do segundo trimestre (primeiro trimestre, se considerado o ano fiscal japonês) de 1,4% para 0,7% (taxa anualizada). Entre janeiro e março, a economia cresceu 5,3%, o que mostra uma freada na atividade, sem dúvida, contundente. Isso diante dos esforços para recuperar o país após o tsunami de março do ano passado e das inundações na Tailândia, que jogaram o PIB de 2011 para o terreno negativo (- 0,74%).

Do aumento do programa de compras de ativos em abril e, antes disso, da mudança de postura do BoJ ao estabelecer uma meta (ao menos informal) de 1% para a inflação em fevereiro, o nível de preços não reagiu a contento e a deflação continua um fantasma - o que tem siso, aliás, há 15 anos, salvo curtos períodos de tempo. O último dado do CPI (o índice de preços ao consumidor) mostrou deflação de 0,4% em julho, sendo que o núcleo permanece no terreno negativo desde janeiro de 2009.

Masaaki Shirakawa, presidente do Banco do Japão, terá a missão de ajustar a política monetária às mudanças recentes nos demais bancos centrais e coordenar, assim, as expectativas dos agentes. Os juros baixíssimos - entre zero e 0,1% - não têm sido suficientes para animar a economia.

Especula-se que o BoJ possa derrubar a taxa sobre reservas em excesso para zero, como fez o Banco Central Europeu (BCE), e ampliar as compras de títulos curtos - hoje a ênfase é na ponta de dois anos. Espaço para aumentar o balanço existe, ao menos na comparação com o que foi feito até agora por BCE, Fed e Banco da Inglaterra.

O Fed aumentou em 215% seu balanço entre 2007 e 2012 (para US$ 2,8 trilhões); o BCE, em 105% (para € 3,08 trilhões); e o BoE, em 278% (para 386,7 bilhões de libras). O BoJ, nesse período, fez crescer seu balanço em apenas 34,7% (para 149,9 bilhões de ienes), mostrando um alto grau de conservadorismo nesse cenário crescente de medidas não convencionais de política monetária.

Considerando os perfis de dois novos membros votantes do banco central japonês, que são advindos do mercado - Takehiro Sato (ex- Morgan Stanley) e Takahide Kiuchi (ex- Nomura) -, não será surpresa mais um QE a caminho.

Fonte: Valor Econômico