Translation Support

terça-feira, 16 de abril de 2013

IOF limita fluxo de recursos ao Brasil após ação do Japão


A incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para as aplicações de investidores estrangeiros em títulos públicos no mercado local deve limitar a vinda de um forte fluxo de recursos para o Brasil decorrente do anúncio pelo Banco do Japão (BoJ) da injeção de US$ 1,4 trilhão na economia em menos de dois anos. A incerteza sobre a política cambial brasileira e o aumento da inflação também são outros fatores que afastam os gestores.

Com o fim do ciclo de queda da taxa Selic, que turbinou o ganho dos papéis prefixados no ano passado promovendo a valorização desses títulos no mercado, a cobrança de 6% de IOF, estabelecida desde outubro de 2010, passou a ter um peso maior sobre os rendimentos.

A Pimco, uma das maiores gestoras do mundo com US$ 2 trilhões sob gestão, mantém uma perspectiva positiva para os investimentos em títulos públicos brasileiros no mercado local, mas vê a cobrança do imposto como um fator limitante para o aumento das alocações para Brasil. "O imposto contribui para aumentar o custo da dívida para o governo brasileiro, uma vez que as taxas dos papéis estão mais altas do que poderiam estar sem o imposto", afirma Lupin Rahman, vice-presidente executiva e gestora de portfólio da Pimco.

O Brasil ainda oferece o maior retorno entre os grandes mercados emergentes. O título mais acessado pelos estrangeiros, a Nota do Tesouro Nacional - série F (NTN-F) de prazo mais longo (2023) está pagando uma taxa de 9,70% ao ano, o que implica em um retorno líquido de IOF de cerca de 8,5%. Esse retorno é maior que o de muitos países emergentes, como o México, que paga uma taxa abaixo de 5% para o título de 10 anos em moeda local, tendo uma taxa de juros básica de 4% ao ano; ou a Turquia, que paga um rendimento de 7,14% para um papel em moeda local de mesmo prazo.

Para Ward Brown, do time de gestão dos fundos de dívida de mercados emergentes da MFS Investment Management, o aumento da inflação torna os títulos brasileiros menos atrativos que o de outros mercados emergentes como México e Rússia. A inflação acumulada em 12 meses encerrados em março ultrapassou o teto da meta, de 6,5%, acumulando variação de 6,59%. Para ele, a cobrança do IOF e o aumento da inflação devem limitar um impacto maior do programa de injeção anunciado pelo BoJ para o Brasil.

A MFS reduziu a posição em títulos soberanos brasileiros em carteira neste ano. "Os títulos públicos brasileiros continuam pagando alto rendimento, porém, estão menos atrativos que há um ano", diz Brown, da MFS, que tem US$ 17 bilhões sob gestão em fundos de dívidas de mercados emergentes.

Os investidores estrangeiros respondem por 14,30% da dívida pública federal interna. Essa posição é maior que os 11,88% dos estrangeiros em fevereiro de 2012. A maioria dos gestores estrangeiros ainda não vendeu os títulos brasileiros em carteira, mas tem diminuído a alocação para Brasil, buscando outros emergentes como Turquia, México e Rússia.

Para a diretora do time de gestão de renda fixa para mercados emergentes da gestora TCW, Marcela Meirelles, o problema em relação ao investimento em papéis brasileiros não é só o retorno líquido menor com IOF, mas a incerteza em relação à política cambial.

No ano passado, a desvalorização de 8,21% do real em relação ao dólar afetou o retorno dos investidores estrangeiros em papéis no mercado local. Neste ano, a moeda brasileira acumula uma valorização de 3,15% em relação à divisa americana. Para a gestora, há dúvidas se o governo poderá buscar um real mais desvalorizado para incentivar as exportações se houver uma diminuição da pressão inflacionária mais para a frente.

"O capital busca mercados em que há menos obstáculos para investimentos e menor interferência do governo na política cambial", afirma Marcela. A TCW tem US$ 11 bilhões sob gestão em fundos de renda fixa de mercados emergentes.

A gestora cita como exemplo o México, que tem atraído recursos tanto na renda variável quanto na renda fixa. Na terça-feira, 9 de abril, o país levantou € 1,6 bilhão em bônus de dez anos pagando um retorno para o investidor equivalente a 2,809% ao ano.

Apesar do cenário, a Pimco está com uma visão positiva para Brasil, dado que o país é uma das poucas economias que tem uma das taxas de juros mais altas do mundo, hoje em 7,25%. Enquanto os bancos centrais estão cortando as taxas de juros lá fora, a expectativa é de um aumento da taxa Selic no curto prazo. Para a gestora da Pimco, embora haja uma pausa no processo de queda no curto prazo, a taxa básica de juros no Brasil tende a convergir para o patamar de outros países emergentes com grau de investimento no médio prazo.

A Nomura Securities International estima que o programa de afrouxamento monetário do BoJ deve levar um fluxo de US$ 10 bilhões neste ano para ativos brasileiros dos chamados fundos Toshin, fundos mútuos que dão a opção aos clientes de selecionar a moeda na qual querem investir e reúne principalmente recursos de investidores de varejo. Esse volume representa 30% do fluxo esperado para esse produto e considera a aplicação em bolsa, renda fixa e derivativos no Brasil. No ano passado, esse fluxo foi negativo em US$ 120 milhões.

Segundo diretor e chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura, Tony Volpon, a maior parte do fluxo para ativos brasileiros deve ir para derivativos negociados no mercado externo, principalmente por meio de transações com contratos a termo de dólar, em que o investidor busca uma exposição ao real. Dessa forma, o impacto será maior no câmbio que nas taxas dos títulos públicos. "A maioria dessas alocações deve ficar concentrada em derivativos por causa do IOF para aplicação em títulos brasileiros no mercado local", diz Volpon.

Boa parte dos recursos de investidores japoneses tem sido direcionada para bônus europeus que tiveram uma queda das taxas de retorno. Segundo Volpon, a queda dos retornos desses papéis lá fora poderá ter um impacto indireto para o Brasil, levando a uma procura maior dos investidores americanos e europeus com papéis com maior retorno.

Fonte: Valor