Com um passado conturbado e mal resolvido, depois de séculos de conflitos, chineses e japoneses escreveram ontem um novo capítulo sobre a tensa disputa territorial das ilhas conhecidas como Senkaku, pelo Japão, e Diaoyu, pela China — o arquipélago é reivindicado pelos dois países. Por volta das 11h de ontem (zero hora em Brasília), um avião bimotor chinês Harbin Y-12 sobrevoou o espaço aéreo perto da ilha de Uotsuri, provocando protestos do governo japonês, que considerou o incidente “extremamente lamentável”.
Em contrapartida, o porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, qualificou a atitude como “perfeitamente normal”, já que as ilhas pertenceriam ao país há séculos. “O sobrevoo das ilhas Diaoyu por aviões de vigilância marítima chineses é perfeitamente normal. A China pede ao Japão que pare com suas atividades ilegais nas águas e no espaço aéreo das ilhas Diaoyu”, completou Hong. Curiosamente, a invasão chinesa ao espaço aéreo japonês aconteceu no mesmo dia que marca o 75º aniversário do massacre de Nanquim, símbolo de humilhação na história da China, quando dezenas de milhares de civis e militares chineses foram mortos por tropas japonesas.
O incidente ganhou ares de tensão quando um barco de patrulha japonês exigiu a retirada dos chineses. A tripulação do avião, no entanto, não se intimidou: “Estamos no espaço aéreo chinês”, responderam, segundo a Guarda Costeira. Em resposta, os japoneses enviaram oito caças F-15 ao local, informou o porta-voz do governo, Osamu Fujimura, que não explicitou se houve incidentes entre as aeronaves dos dois países. De acordo com os arquivos históricos do Ministério da Defesa do Japão, esta foi a primeira vez que um avião da China violou o espaço aéreo japonês. Tóquio garante que identificou, desde 1959, ao menos 34 invasões — 33 por aviões russos (ou soviéticos) e uma por Taiwan.
Essa não foi a primeira polêmica envolvendo a disputa pelas ilhas neste ano. Em setembro, milhares de estudantes chineses foram às ruas de várias cidades para protestar contra a decisão japonesa de nacionalizar as ilhas, que antes eram propriedade particular. Ainda no mesmo mês, navios japoneses e taiuaneses dispararam canhões de água uns contra os outros. Taiwan, que também reivindica o arquipélago, havia enviado quando 40 barcos pesqueiros e 12 navios de patrulha em áreas próximas às ilhas. Preocupado com mais confrontos, o premiê japonês, Yoshihiko Noda, pediu vigilância às áreas próximas a Senkaku, administrada pela prefeitura da ilha de Okinawa.
Fonte: Correio Braziliense