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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Após eleição, Japão deve elevar estímulo e desvalorizar o iene


Quando Shinzo Abe foi primeiro-ministro, em 2007, o grau de otimismo entre empresas japonesas como a Sony chegou perto do patamar mais alto em 16 anos. Agora, com pesquisas sugerindo que Abe voltará ao poder nas eleições de domingo, a pesquisa Tankan do Banco do Japão provavelmente mostrará hoje que os grandes grupos industriais são os mais pessimistas desde o começo da crise mundial. A Sony não registra um lucro líquido há quatro anos.

A piora do sentimento poderá aumentar a pressão para que Abe cumpra promessas de um maior estímulo fiscal e monetário, mesmo estando o governo japonês acuado pela maior dívida pública do mundo. A Honda e a Nissan reduziram suas previsões de lucro em 20% depois que a disputa territorial do Japão com a China derrubou suas vendas. Além disso, o governo deverá socorrer a fabricante de chips Renesas Electronics.

"As intenções de Abe são muito claras. Ele quer enfraquecer o iene, estimular a alta dos preços das ações e melhorar o sentimento [dos mercados]", diz Masaaki Kanno, economista-chefe da JP Morgan Securities Japan e ex-funcionário do Banco do Japão, o banco central japonês. "Ainda não se sabe se essas políticas funcionarão."

Kanno acredita que o BC decidirá por um estímulo monetário em sua reunião da próxima semana. Um dos novos instrumentos da instituição é um programa planejado de empréstimos ilimitados a bancos. As autoridades monetárias do país querem, com essa iniciativa, limitar as restrições ao paradeiro do dinheiro, o que significa que ele poderá ir para instituições como fundos de hedge, segundo fontes familiarizadas com as discussões no BC.

O iene chegou a cair 0,5%, para 83,65 ienes por dólar, ontem em Tóquio, o menor nível desde março, depois que o Comitê de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, ampliou na quarta-feira seu programa de compra de ativos e disse que as taxas de juros permanecerão baixas enquanto a taxa de desemprego ficar acima de 6,5% e a inflação estiver sob controle.

O índice de ações Nikkei 225 fechou ontem em alta de 1,7% e caminha para sua quinta semana seguida de ganhos.

O iene registra uma queda de 7,2% frente ao ao dólar nos últimos 30 dias, o pior desempenho entre as moedas dos países desenvolvidos. Mas ainda está mais forte que a cotação de 100 ienes por dólar que o diretor-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, disse ser a "faixa neutra" da moeda.

O índice trimestral Tankan do Banco do Japão para os grandes grupos do setor industrial, deve cair para -10 em dezembro, ante -3 em setembro, segundo estimativa média de 25 economistas ouvidos pela Bloomberg News. Se confirmada, será a menor pontuação desde o primeiro trimestre de 2010. Um número negativo significa que os pessimistas superam os otimistas em número.

A economia japonesa encolheu nos dois últimos trimestres, configurando uma recessão, depois que a disputa com a China, o maior mercado exportador do Japão, levou consumidores chineses a boicotar produtos japoneses, contribuindo para o pior ano das exportações japonesas desde a recessão global de 2009. Economistas consultados pela Bloomberg News esperam outra contração da economia neste trimestre.

As vendas da Toyota na China caíram 22% em novembro, em comparação ao mesmo período do ano passado, depois de uma queda de 44% em outubro e outra de 49% em setembro, a maior redução mensal em uma década.

Companhias que fazem parte do índice Nikkei e que divulgaram os resultados para o trimestre julho-setembro, mostraram um declínio consolidado de 26% no lucro líquido sobre o mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Sony, Panasonic e Sharp anunciaram mais de 29.800 demissões para o período que se encerra em 31 de março, para tentar se recuperar de perdas combinadas de 1,6 trilhão de ienes (US$ 19,1 bilhões) sofridas no exercício passado.

"Números fracos da pesquisa Tankan dariam ao Banco do Japão uma boa desculpa para voltar a afrouxar a política monetária na semana que vem", diz Kanno, do JP Morgan, que prevê que um aumento de 10 trilhões de ienes no programa de compra de ativos do banco central será aprovado na reunião de 19 e 20 de dezembro. "O Banco do Japão também enfrentará mais pressões dos políticos e do mercado para desvalorizar o iene."

O BC não conseguiu chegar perto de sua meta de inflação de 1%, uma vez que os preços ao consumidor não sobem desde abril. O país teve, nos 12 meses encerrados em abril, deflação de 0,4%. Abe vem defendendo uma meta de inflação de 2% e uma expansão monetária ilimitada.

"Abe está jogando um jogo perigoso", disse Richard Koo, economista-chefe do Nomura Research Institute, em nota de análise a investidores divulgada em 11 de dezembro. "Um grande aumento nos rendimentos dos bônus soberanos poderá levar a um colapso fiscal nos países com dívidas nacionais grandes. Para o Japão, onde a dívida nacional chega a 240% do PIB, as consequências seriam catastróficas."

Kathy Matsui, principal extrategista do Goldman Sachs para o Japão, disse em entrevista em 5 de dezembro que o índice Topix deverá subir 14% nos próximos seis meses, com as montadoras liderando os ganhos, amparadas na economia mundial mais forte e num afrouxamento monetário mais agressivo no Japão.

As encomendas de máquinas no Japão, um indicador dos investimentos corporativos, cresceram pela primeira vez em três meses em outubro, enquanto a produção industrial teve a maior alta do ano.

Fonte: Valor