Após um 2011 repleto de contratempos, a gigante japonesa NEC está colocando em prática uma estratégia focada em novos segmentos e em mercados emergentes, entre os quais o Brasil. Sua direção vem avaliando periodicamente a compra de empresas brasileiras do setor de tecnologia da informação (TI), de todos os tamanhos. Além de retomar o porte que já teve no Brasil nos anos 90, quando faturava cinco vezes mais do que hoje, o objetivo do grupo é ficar conhecido no país como uma empresa de software, e não apenas de equipamentos para o setor de telefonia.
No ano passado, o terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão, além de uma grande enchente na Tailândia, atrapalharam os negócios da NEC, especialmente no ramo de sistemas pessoais, como é conhecida a área de produção de celulares. Além disso, o aumento das taxas de juros na China, a letargia da economia europeia e a valorização do iene afetaram as exportações, resultando em um prejuízo de 110 bilhões de ienes (cerca de US$ 1,3 bilhão) no ano fiscal encerrado em março último.
Se prejudicou as vendas externas, a valorização da moeda japonesa pode ajudar nas aquisições mundo afora, que se intensificaram desde que Takayuki Morita assumiu a vice-presidência de Negócios Internacionais. De lá para cá, a NEC já desembolsou US$ 780 milhões com a compra de empresas de TI nos Estados Unidos, na Austrália e na Argentina. No Brasil, a empresa está disposta a desembolsar valores semelhantes, caso encontre boas oportunidades, segundo o executivo.
A meta até 2017 é aumentar de 15% para 50% o faturamento originado fora do Japão. Com a crise instaurada no mundo desenvolvido, a única saída são os emergentes, com destaque para o Brasil e a África.
No imponente edifício-sede da NEC, em Tóquio, Morita - tido como um craque em aquisições - se disse insatisfeito com o faturamento da empresa no Brasil, que já há alguns anos se mantém na casa dos R$ 400 milhões. Há quatro décadas no país, a multinacional atingiu seu ápice no fim dos anos 90, quando ainda mantinha uma produção local de equipamentos, localizada em Guarulhos (SP), e faturava mais de R$ 2 bilhões. Em abril do ano passado, a NEC instalou em São Paulo a sua matriz para a América Latina.
Atualmente, o principal negócio da NEC no Brasil, com cerca de 60% do faturamento, ainda é o fornecimento de equipamentos para as operadoras de telecomunicações, sobretudo o Pasolink, rádio de micro-ondas que faz a comunicação entre as antenas de celular. Para o futuro, a companhia quer incrementar os setores de software e de cidades inteligentes, como a que está sendo erguida em Pernambuco, em parceria com a Odebrecht.
"A nossa intenção é que possamos aumentar a participação (no faturamento) não só na área de redes e de TI. Há outras formas de aproximação possíveis, como no setor de projetores e displays inteligentes, em que temos liderança no mercado mundial e que pode representar uma boa oportunidade no Brasil", afirmou Morita. A NEC, contudo, não tem planos de voltar a produzir no país.
Na área de operadoras, a companhia japonesa negocia o fornecimento de equipamentos para a rede de quarta geração de telefonia móvel (4G), cujas frequências foram leiloadas semana passada. Por meio de uma parceria com a Cisco, a NEC tenta voltar a vender estações radiobase para o setor, pois ficou de fora do mercado de 3G. A empresa sabe, entretanto, que a concorrência será dura, sobretudo com os equipamentos chineses. "Vamos fazer nosso melhor, mas é uma competição muito difícil", disse o diretor da unidade de vendas internacionais da empresa, Shinya Kukita.
O executivo afirmou que a NEC não vai entrar em uma competição irresponsável nessa área, que já não é mais considerada tão estratégica assim. "Só vamos entrar se for lucrativo, não vamos entrar para perder dinheiro", disse Kukita. No Japão, a NEC tem fatia de 40% no mercado de redes para telefonia móvel.
Fonte: Valor