O ex-deputado foi considerado uma das personalidades mais influentes de todos os tempos da colônia nikkei do estado
A comunidade nikkei do Paraná perdeu, no dia 30, um de seus principais líderes. Antônio Ueno faleceu, aos 88 anos, em decorrência de um câncer, em São Paulo. Ele deixa um legado incalculável para as novas gerações.
Nascido em Assaí, em 1923, Ueno foi o primeiro oriental a ser deputado estadual no Paraná em 1962. Filho de imigrantes japoneses vindos da ilha de Kyushu, ele atribuía aos pais sua facilidade de lidar com pessoas e ser comunicativo. “De onde meus pais vieram as pessoas são mais abertas, expansivas, briguentas. Não parecem em nada com o estereótipo que se tem dos japoneses de serem quietos e tímidos”. Esta ascendência, aliada à força e garra do imigrante, fez de Ueno uma pessoa com vocação para servir à comunidade. “Deus deu, para cada um, uma vocação. Para entrar na política, ela é necessária”, disse em entrevista ao Paraná Shimbun em 2008.
Empreendedor, a vontade de “abraçar o mundo” também atingiu a comunicação. Produzia em Assaí, semanalmente, a Folha de Assaí, um pequeno jornal confeccionado por ele mesmo. Escrevia os artigos, montava a tipografia e escolhia as noticias que seriam impressas. “Ter o jornal era um hobby”.
O envolvimento de Ueno com o Paraná Shimbun se deu logo no início do jornal, quando soube que o senhor Miyamura, o fundador, queria vendê-lo. “Como eu já tinha uma tipografia, comprei também o acervo dele e comecei o trabalho. Eu já era presidente da Liga Desportiva, assim, todas as atividades eram publicadas lá, com a colaboração dos presidentes de cada departamento, que enviavam as notícias. O jornal funcionava com a colaboração de todos”.
Como empresário teve lavouras de algodão (considerado por ele o empreendimento primário da família), um hotel em São Paulo, uma usina de álcool em Goioerê, além do próprio jornal. “Tentei concessões de rádio e também de televisão, mas não consegui. Ser empreendedor é assumir riscos, é saber que uma vez dá certo e em outra, não. Tem que ter garra, vontade e fé em acreditar que as coisas podem dar certo”, dizia.
Como presidente da Câmara de Comércio Brasil Japão por três décadas, Ueno esteve à frente de inúmeras Missões no Japão realizadas pela entidade. A primeira, segundo ele, foi em 1973. “Na época fui para o Japão como representante do governador Paulo Pimentel para estabelecer o convênio de irmandade entre o Paraná e Hyogo, o que rendeu bons frutos”, contou. As consequências dessa missão foram as coirmandades entre Maringá e Kakogawa, Londrina e Nishinomiya, Paranaguá e Tsuna, Curitiba e Himeji, entre outros.
O ex-deputado afirmou também que as missões da Câmara nunca falharam e sempre trouxeram benefícios para o Estado. “Abrimos caminhos para 451 empresários e políticos. Muitas empresas japonesas se instalaram no Paraná gerando milhares de empregos e muitos empresários puderam fechar grandes negócios com o Oriente”.
Outro momento marcante da vida do ex-deputado foi a homenagem recebida em Hyogo, no Japão, pela Associação Brasil-Japão de Kobe, no ano passado. A associação fez uma apuração dos sete nomes mais influentes de todos os tempos da colônia nikkey do Paraná e, naturalmente, o nome do ex-deputado federal integrou o grupo selecionado. A história política do empresário pode ser comparada aos grandes nomes da política nacional. Só em termos de mandatos como deputado federal, por exemplo, foram oito seguidos, sendo um recorde mantido até hoje entre os políticos do Paraná (perdendo apenas para Inocêncio Oliveira, de Pernambuco, com nove mandatos seguidos).
Cargos Ocupados:
- Duas vezes vereador pela Câmara Municipal de Assaí (1955 - 1958), (1959 - 1962);
- Deputado Estadual pela Assembléia Legislativa do Paraná (1963 - 1966);
- Três vezes presidente da Comissão de Orçamento da Assembléia Legislativa do Paraná (1964, 1965, 1966);
- Oito vezes Deputado Federal (1967 - 1970; 1971 - 1974; 1975 - 1978; 1979 - 1982; 1983 - 1986; 1987 - 1990; 1991 - 1994; 1995 - 1998);
- Membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados; da Agricultura e Política Rural;
- Presidente da Comissão Regional Sul;
- Foi oito anos membro da Junta Administrativa do IBC (1962 - 1970);
- Fundador da Liga Desportiva Paranaense (1947);
- Fundador da Escola Agrícola de Apucarana (1958);
- Co-fundador e presidente da Federação Paranaense de Baseball (1963);
- Como representante do governo do Paraná, em Kobe, no Japão, firmou o Tratado de Intercâmbio, Cultural e Científico entre o nosso Estado e a Província de Hyogo (1970);
- Fundador da Aliança Cultural Brasil Japão do Paraná (1973);
- Fundador do Centro Agrícola de Rolândia (1973);
- Fundador e presidente da Câmara do Comércio e Indústria Brasil Japão do Paraná (1978);
- Presidente do Grupo Parlamentar Brasil Japão na Câmara dos Deputados em Brasília (1988 - 1990);
- Fundador e presidente do Instituto Cultural e Científico Brasil Japão (Palácio Hyogo) (1996);
- Coordenou a vinda da família imperial japonesa ao Brasil nas décadas de 70, 80 e 90;
- Realizou 37 missões econômicas ao Japão;
- Colaborou com a criação e instalação do Consulado do Japão no Paraná, sediado em Curitiba;
- Colaborou junto à câmara no estabelecimento de tratados diplomáticos de irmandade entre cidades do Brasil e Japão (Maringá-Kakogawa; Londrina-Nishinomiya; Curitiba-Himeji; Ibiporã-Asso; Paranaguá-Tsuna);
- Realizou 17 seminários econômicos envolvendo Brasil e Japão;
- Na Constituinte de 1987 e 1988, apresentou 136 emendas, sendo aprovadas 36 no setor da economia, agricultura e nacionalidade.