O crescimento da economia japonesa apresentou forte aceleração no início do ano, o sinal mais concreto até agora de que as novas políticas de estímulo que trouxeram euforia aos mercados financeiros também começam a estimular empresas e consumidores.
O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento anualizado de 3,5% nos três primeiros meses do ano, segundo o governo. O número representa uma grande melhora em relação ao crescimento morno de 1% registrado no fim de 2012, que se seguiu a seis meses de retração. O avanço também foi bem maior do que os 2,8% previstos por economistas.
"Esses números, claramente, vão confirmar a recuperação do Japão", disse o economista-chefe da Nomura Securities, Tomo Kinoshita, antes da divulgação do informe. "Os gastos dos consumidores estão mais fortes. As pessoas estão sentindo o "impacto de riqueza" decorrente da alta das ações baseada nas expectativas com a "Abeconomia"".
A menção de Kinoshita refere-se ao conjunto de políticas adotadas desde que o premiê do país, Shinzo Abe, assumiu o cargo no fim de dezembro, comprometendo-se a tirar o Japão de 15 anos de deflação. Desde então, o governo lançou um pacote de gastos de 13,1 trilhões de ienes (US$ 131 bilhões) e indicou um novo presidente para o Banco do Japão (o banco central), que arquitetou um plano para injetar dinheiro na economia por meio de compras maciças de bônus governamentais e para atingir inflação de 2% daqui a dois anos.
É muito cedo, no entanto, para dizer que houve uma virada de tendência na economia japonesa, que já teve vários inícios de recuperação em falso nos últimos 20 anos. Muitos analistas dizem que o atual ímpeto apenas provará ser sustentável se Abe puder lançar o que chamou de "terceira flecha" de sua estratégia de crescimento - o pacote, ainda a ser lançado, de medidas de desregulamentação e remodelação voltadas a consertar problemas estruturais básicos.
"Não podemos ser muito precipitados em acreditar [em uma recuperação]", alertou Hideo Kumano, economista-chefe do Dai-ichi Life Research Institute. Ele diz que são necessários mais sinais de inovação e mais investimentos de empresas para ajudá-las a elevar seu potencial de crescimento.
Ainda assim, o informe do PIB aumenta as esperanças de que a economia, terceira maior do mundo e a que está há mais tempo patinando, possa voltar a crescer de forma mais ampla, em um momento em que as perspectivas mundiais continuam incertas. O índice de crescimento do Japão, ajustado pelos preços, superou a expansão dos Estados Unidos no período de janeiro a março, de 2,5%, assim como o desempenho da região do euro, que se retraiu 0,9%. Apesar de crescer bem menos que a China, o ritmo de atividade no Japão está em alta. Já os chineses, que eclipsaram o Japão há dois anos ao tornarem-se donos da segunda maior economia do mundo, tiveram uma expansão de 7,7% - índice que representou uma desaceleração em relação a 2012.
Os números do PIB são o primeiro grande sinal do impacto inicial das políticas de Abe. Há seis meses, a previsão média dos principais economistas era de expansão de apenas 1,8% para o período, cerca de metade do anunciado.
A antecipação de um crescimento mais forte com a "Abeconomia" já levou as ações japonesas a subir 45% desde o início do ano, para o maior patamar desde o fim de 2007. Um grande impulso foi a desvalorização de mais de 20% na moeda local, para a faixa de 100 ienes por dólar pela primeira vez em quatro anos. O Banco do Japão contribuiu para desencadear a desvalorização do iene ao promover grande aumento da base monetária. Acredita-se que a moeda mais fraca, por sua vez, impulsione a economia japonesa, guiada pelas exportações, ao tornar seus produtos mais competitivos no exterior e ao elevar a receita internacional das empresas quando convertida em ienes.
Economistas projetam crescimento sólido à frente para o Japão, à medida que a "Abeconomia" - que começou a fazer efeito no período de janeiro a março - trocar para uma marcha mais veloz. Pesquisa com 40 economistas feita pelo grupo de estudos Japan Center for Economic Research mostrou que eles, em média, preveem expansão de 2,4% no ano a ser encerrado em março de 2014, em comparação à projeção anterior de 1,4%, feita há seis meses.
O panorama não é livre de riscos. Um iene mais fraco tem suas desvantagens, por elevar o preço das importações, em especial, de bens básicos, como alimentos e combustíveis. E os salários ainda não começaram a subir, apesar de Abe ter incitado as empresas a pagar mais aos funcionários. Os salários nominais caíram 0,6% em março, na comparação anual, segundo declínio mensal seguido.
Fonte: Valor