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domingo, 11 de março de 2012

Japão ainda luta para se reerguer, um ano após desastre

Um ano após o terremoto e o tsunami que causaram grande devastação e um acidente nuclear, a economia do Japão finalmente pode estar em vias de virar a página e começar a crescer novamente. No entanto, as perspectivas para uma forte recuperação continuam problemáticas, como mostram dados da economia divulgados ontem.

O Japão registrou um déficit em conta corrente recorde de 437,3 bilhões de ienes (US$ 5,4 bilhões) em janeiro, segundo números anunciados pelo Ministério das Finanças. O déficit de janeiro foi o maior desde o início da série histórica, em 1985, e ficou bem acima da mediana das estimativas dos 27 economistas entrevistados pela agência Bloomberg, de um déficit de 320 bilhões de ienes.

O crescimento do déficit foi impulsionado pelo forte aumento na importação de energia por causa do fechamento de 52 dos 54 reatores nucleares após o derretimento dos reatores da usina de Fukushima, causado pelo terremoto/tsunami de 11 de março de 2011.

"A importação de combustíveis, para geração de eletricidade, continuará elevada enquanto as usinas nucleares estiverem excluídas do conjunto de energia do Japão", afirmou David Rea, economista do Capital Economics em Londres. Ao mesmo tempo, fatores sazonais foram "uma causa importante" do déficit temporário, acrescentou.

Os dados também reforçam o risco de o Japão se tornar nesta década um país de déficit, que precisará se financiar no exterior para honrar o serviço de sua dívida, percentualmente a maior do mundo, que chega 200% do PIB do país, de US$ 5,5 trilhões.

Além das pressões fiscais, o Japão tem como obstáculos a sua vulnerabilidade às variações da economia e mercados globais, dada a dependência das exportações, a deflação crônica e o rápido envelhecimento da população, que deve encolher aproximadamente 32% até 2060, segundo estimativas. Há também riscos políticos. O primeiro-ministro Yoshihiko Noda, que assumiu em setembro, tem uma aprovação de apenas 30% e pode não durar muito tempo.

Ontem, o governo japonês informou que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu a uma taxa anualizada de 0,7% entre outubro e dezembro, comparado com uma estimativa preliminar de contração de 2,3% divulgada em fevereiro. Em decorrência do tsunami, o PIB apresentou contração em três dos quatro trimestres de 2011.

O Barclays Capital estima que a terceira maior economia do mundo vai crescer 1,5% neste trimestre, depois que os dados da produção industrial e das vendas no varejo revelaram um ganho maior que o esperado pelos economistas em janeiro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o PIB japonês terá uma expansão de 1,7% neste ano e de 1,6% em 2013.

"Nos próximos meses, deverá ficar cada vez mais claro que a fraqueza acabou", disse Ryutaro Kono, economista-chefe do BNP Paribas em Tóquio, antes da divulgação do relatório do PIB. "A retomada das exportações e a demanda por reconstrução do governo deverão ajudar a dar impulso aos lucros corporativos, levando a uma melhora no nível de emprego e nas condições de renda das famílias", acrescentou.

O cenário mais positivo para a economia japonesa é fortalecido por uma combinação de fatores, que inclui um iene em processo de desvalorização, sinais de retomada do comércio global, a recuperação americana, os gastos estimados em US$ 246 bilhões para a reconstrução após a destruição no nordeste do país causada pelo terremoto/tsunami e o afrouxamento monetário determinado pelo Banco do Japão (BOJ, o banco central).

"Depois de muitos anos de ameaças frustradas de avanço, a economia japonesa pode finalmente estar prestes a decolar, ou pelo menos entrar em um período de crescimento sustentado, com um mercado de ações em acentuada elevação", escreveu em uma análise John H. Makin, pesquisador do American Enterprise Institute.

Para Makin, a decisão do Banco do Japão, no mês passado, de acelerar o relaxamento monetário mostrou a seriedade do banco central no compromisso de pôr um fim à deflação que aflige o país há mais de uma década. Numa ação surpreendente, e sob crescente pressão política, o BOJ elevou o nível do seu programa de compra de ativos - sua principal ferramenta de estímulo ao crédito em meio a taxas de juros próximas a zero - de 55 trilhões para 65 trilhões de ienes, por meio de mais compras de títulos do governo japonês.

(Valor)