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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Blanchard vê 3 novas ameaças: China, EUA e Japão

Três novos riscos surgiram na economia global nos últimos meses, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI): a possibilidade de uma desaceleração mais forte do crescimento da China; o eventual impacto da redução dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano); e as dúvidas quanto à sustentabilidade da nova política econômica japonesa.

Além desses três novos perigos, persistem alguns antigos. O principal deles o risco de recrudescimento da crise na zona do euro, disse ontem o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard.

O FMI passou a estimar um crescimento de 7,8% para a China em 2013 e de 7,7% em 2014, 0,25 e 0,5 ponto abaixo do que projetava em abril. "A minha impressão é que a China é o país em que há o maior risco em termos de uma queda mais forte do ritmo de crescimento", afirmou Blanchard, que evitou dizer, contudo, qual é o potencial de recuo que vê para o PIB chinês.

O maior desafio para a China é promover a transição para um crescimento mais equilibrado, com menos ênfase no investimento e mais no consumo. Blanchard ressaltou que o país investe demais e muitas vezes de modo ineficiente, com riscos crescentes para o mercado de crédito. Desde a crise, a taxa de investimento da China pulou de 39% para 45% do PIB, um nível muito elevado, disse ele.

Para comparação, em 2012 o Brasil investiu o equivalente a 18% do PIB, uma taxa considerada baixa. Para Blanchard, as autoridades chinesas conhecem bem a situação, e vão tentar promover a desaceleração do crédito que impulsiona o investimento de modo cuidadoso. A questão é que o aumento do consumo pode demorar, não compensando a desaceleração da formação bruta de capital fixo (medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos).

Outro perigo no radar do FMI é o efeito que uma política monetária americana menos expansionista terá sobre os mercados. Blanchard disse acreditar que a volatilidade observada recentemente, devido à perspectiva de diminuição do ritmo de compra de ativos pelo Fed, vai diminuir daqui para frente. Para o FMI, houve uma reavaliação do risco em função da possibilidade de mudança na política do banco central americano e de uma expectativa de menor crescimento dos emergentes. O economista observou que os juros dos títulos do Tesouro americanos vão se tornar mais atraentes, seja pela redução do ritmo de aquisição de ativos, seja pelo aumento dos juros básicos, que ainda parece distante.

Isso deverá provocar uma saída de recursos de países emergentes, já que parte dos fluxos serão repatriados, disse ele. "Mas não acho que todos os fluxos vão voltar. Parte desses capitais foram para os mercados emergentes devido às perspectivas de maior crescimento e de maior lucratividade do que nas economias avançadas", afirmou ele.

O terceiro risco novo, na visão do FMI, é saber se o Japão será capaz de desenvolver adequadamente as chamadas "três flechas" da "Abenomics" (o pacote de medidas do premiê Shinzo Abe): os estímulos monetários, os impulsos fiscais e as reformas estruturais. Para Blanchard, se as medidas de forte estímulo fiscal não forem complementadas por medidas que indiquem um caminho crível para as contas públicas no longo prazo, combinadas com reformas estruturais importantes, os investidores podem começar a duvidar da sustentabilidade da dívida japonesa. Com isso, passariam a exigir juros mais altos para comprar os títulos do governo japonês, o que poderia colocar em risco a política econômica arquitetada pelo primeiro-ministro Abe.

Fonte: Valor