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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

OMC dá 'sinal verde' para a desvalorização do iene


Os países na Organização Mundial do Comércio (OMC) confirmaram pelo silêncio o sinal verde já dado pelo G-20 para a política monetária expansionista do Japão, que tem estado no centro das ameaças de guerra comercial nas últimas semanas.

No exame da política comercial japonesa, ontem, nenhum país na OMC manifestou preocupação com a política do premiê Shinzo Abe de pressionar o Banco do Japão a manter os juros próximos de zero e inundar a economia com liquidez para ajudar a indústria do país. Com isso, o iene se desvalorizou 15% contra o dólar nos últimos três meses, com produtos japoneses, como os eletrônicos da Sony ou os carros da Toyota, tornando-se mais baratos para exportação.

Qualquer ação da terceira maior economia do mundo, e quarto maior exportador e importador global de mercadorias, tem evidente impacto sobre os parceiros. Porém, a Coreia do Sul foi o único país a lembrar discretamente que "moedas não devem ser um instrumento para desvalorizações competitivas". O won coreano se valorizou 6% contra o iene neste ano, após alta de 20% em 2012, cortando a competitividade de seus produtos contra os rivais japoneses.

Autoridades em Seul admitem que conflitos sobre divisas podem aumentar nos próximos meses, depois que ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 evitaram censurar Tóquio por sua política do iene fraco.

Já o México abordou diretamente na OMC a discussão sobre a "rápida desvalorização" do iene, aproveitando para alvejar indiretamente a proposta que o Brasil levou sobre câmbio no ano passado.

Para o México, as causas da desvalorização do iene são múltiplas, e a "principal lição" a tirar é a dificuldade na OMC de se vincular comércio a tipos de câmbio - justamente o que o Brasil tem procurado fazer na entidade. O representante mexicano observou que a moeda japonesa era cotada a 93,5 contra o dólar americano. Em outubro de 2012, valia 76 contra o dólar e em outubro de 2008 sua cotação era de 110.

A conclusão do México é que, se houvesse instrumento comercial para compensar a alteração no valor das moedas, em um momento o Japão teria aplicado sobretaxa de uns 20% e em outro os EUA é que teriam adotado a medida, multiplicando os problemas ao invés de resolvê-los.

O Brasil espera convencer os parceiros na OMC a negociar futuramente um mecanismo de desafogo para um momento de valorização excessiva, que permita impor sobretaxas para proteger sua indústria. Mas ontem o país não tocou no assunto no debate sobre o Japão. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, conhecido agora como "Mister currency war" (sr. guerra cambial") no cenário internacional, já tinha adotado um discurso mais conciliador no fim de semana em Moscou, após a reunião do G-20. "O Japão apresentou um plano de recuperação. A política monetária expansionista do Japão não é criticada, e não houve nenhuma censura no G-20 à política japonesa, que é para combater o risco da deflação", disse.

Nos mercados de moedas, a fragilidade do iene continua dominando os debates. Certos analistas acham que a moeda pode se desvalorizar um pouco mais, para 95 ienes por dólar.

Fonte: Valor