TÓQUIO - O governo dos Estados Unidos se recusou novamente a rotular a China como manipuladora do câmbio, mas criticou os esforços do Japão para limitar a valorização do iene.
Em seu relatório semestral ao Congresso divulgado ontem, o Tesouro americano fez fortes críticas às recentes intervenções do Japão na moeda. Segundo o Tesouro, em vez de reagir à apreciação do iene com intervenções na taxa de câmbio, o governo deveria tomar medidas "profundas" para aumentar o dinamismo da economia doméstica, a competitividade das empresas japoneses e o crescimento potencial.
Os EUA, junto com outros países, apoiou o Japão em uma intervenção no câmbio logo após o terremoto de 11 de março, mas não concordou com as ações do Japão em agosto e outubro, argumentando que a moeda deve ser baseada em fundamentos do mercado.
"É importante notar que essas operações ocorreram num momento em que a atividade do mercado de câmbio e de aversão ao risco estavam sendo predominantemente influenciadas pela evolução financeira de outros setores da economia global, que foram afetando todas as principais moedas", disse o relatório do Tesouro americano.
Analistas no Japão disseram terem sido surpreendidos pelo forte tom das críticas do relatório e preveem que isso vai tornar mais difícil para o governo japonês entrar novamente no mercado para tentar enfraquecer o iene.
"O Japão não será capaz de intervir livremente tanto como ele quer", disse Tomoko Fujii, estrategista sênior de câmbio do Bank of America Merrill Lynch nos EUA. O banco projeta que o dólar manterá seu nível recorde de baixa frente ao iene.
Os analistas estão, agora, reforçando suas previsões de que o iene vai continuar se apreciando para novas máximas históricas no próximo ano. O mercado já projetava a valorização da moeda devido à crise da dívida soberana na Europa e pela expectativa de que indicadores econômicos dos EUA comecem a mostrar uma piora a partir de janeiro. Além disso, o iene é sustentado pelo superávit em conta corrente do Japão, o que cria demanda subjacente para a moeda.
"Sabíamos que os EUA não têm recebido bem as intervenções recentes do Japão, mas esta mensagem clara foi uma grande surpresa", disse Junya Tanase, estrategista-chefe de câmbio do JP Morgan em Tóquio.
Um funcionário do governo japonês disse, em reação ao relatório, que não haveria "nenhuma mudança" na política de câmbio do do país e que o Japão continuará a explicar a sua política de divisas para outros governos.
O Japão disse repetidamente que iria intervir para parar do que chamou de "volatilidade excessiva", argumentando que a valorização de sua moeda não se justifica pelos fundamentos da economia japonesa.
Quanto a China, o Tesouro americano disse no relatório que vai continuar pressionando Pequim para uma maior flexibilidade da taxa de câmbio, bem como para melhorar o ambiente para empresas estrangeiras e mudar o perfil de crescimento da economia liderado exportações.
Fonte: Dow Jones Newswires com The Wall Street Journal