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sexta-feira, 1 de março de 2013

BC japonês terá titular em sintonia com o governo


Haruhiko Kuroda foi anunciado como novo presidente do Banco do Japão (BoJ), confirmando as expectativas de escolha de um profissional altamente alinhado às premissas de condução da política econômica tornadas públicas e já parcialmente implementadas pelo primeiro ministro, Shinzo Abe.

Kuroda é atualmente presidente do Banco de Desenvolvimento Asiático e substituirá Masaaki Shirakawa a partir de 20 de março, juntamente com dois novos membros do BoJ. O primeiro é Kikuo Iwata, professor de economia na Universidade Gakushuin em Tóquio e conhecido por suas críticas ao BoJ; o segundo é Hiroshi Nakaso, atualmente responsável por assuntos internacionais do banco central japonês e sempre lembrado por seus comentários em relação à sobrevalorização do iene.

Antes de ser oficialmente nomeado para o cargo, Kuroda precisa ser aprovado pelo parlamento. Historicamente, esse processo é demorado e os candidatos podem ser rejeitados. Mas desta vez a aprovação não deverá enfrentar obstáculos, na opinião do UBS. Para o banco, é consenso entre os políticos japoneses que o país precisa de incentivos monetários radicais neste momento, algo amplamente defendido por Kuroda.

A política instituída pelo primeiro ministro Shinzo Abe desde o fim do ano passado tornou-se conhecida por "Abenomics", agressivamente focada no processo de reflação desejado pelo país (o BoJ tem agora meta formal de inflação de 2%) e por estímulos fiscais direcionados à retomada do crescimento. Há similaridades nas ações de Abe com as políticas implementadas por Korekiyo Takahashi, ministro das Finanças na década de 30. Talvez tenha vindo daí a inspiração.

Em estudo publicado nesta semana, o Nomura comparou a política econômica conduzida por Abe àquela feita por Takahashi, encontrando similaridades no que tange a política monetária acomodatícia e a política fiscal expansionista no combate à deflação e ao baixo crescimento econômico do Japão.

O resultado da política na década de 30 foi benéfico para a economia, o que, por analogia, aponta a possibilidade de sucesso da estratégia definida por Abe, segundo opinião do Nomura. Quando a política de Takahashi foi introduzida, o governo japonês abandonou os esforços para voltar ao padrão ouro e efetivamente passou para um sistema de controle cambial.

Somada às expectativas de afrouxamento monetário e inflação, o iene depreciou-se 40% entre 1931 e 1933; as exportações começaram a subir em 1932 e atingiram seu primeiro superávit desde 1918 três anos depois. O produto da economia nos primeiros estágios da recuperação foi puxado pelos gastos do governo, que depois redundaram no crescimento das exportações e do investimento privado. O PNB (produto nacional bruto), que crescia em torno de 1% em 1932, superou 10% em 1934.

O governo de Abe sabidamente sustenta-se em três pilares: política monetária agressiva; política fiscal flexível; e estratégia de crescimento para estimular o investimento privado. Comparativamente, desde que o "Abenomics" entrou em vigor (em outubro de 2012), o iene depreciou-se quase 20% em relação ao dólar. Os economistas do Nomura acreditam que na atual política as exportações podem sustentar a recuperação econômica.

Outra semelhança histórica é a política de expansão fiscal. Tanto Takahashi como Abe lançaram mão de planos emergenciais de gastos públicos, que o Nomura vê como capazes de criar uma demanda efetiva. Abe propôs um orçamento complementar de 13,1 trilhões de ienes (2,7% do PIB nominal) que foi aprovado em 14 de fevereiro, prevendo um crescimento de 15,6% nos gastos do governo em 2013.

Uma ressalva é que, considerando a experiência de Takahashi, mesmo após o fim da deflação os salários podem demorar a reagir, o que derrubaria o poder de compra das famílias. Por conta disso, a estratégia de crescimento de Abe, que deve ser anunciada oficialmente em junho, deve conter ações para impulsionar os salários, na opinião do Nomura.

Há, entretanto, três diferenças importantes entre os dois planos: o nível da dívida como proporção do PIB; o funding para os gastos fiscais; e o nível da taxa de juros. A dívida em 2012 é projetada em 226% do PIB e na década de 30 correspondia a apenas 56,3% do PIB. Nesse sentido, a política fiscal não pode ser tão expansionista como no passado. Quanto ao funding, a política de Takahashi era baseada em emissões de títulos soberanos (JGB) pelo BoJ, o que hoje não é mais permitido. Ademais, a taxa de juros situava-se em 6,57% em 1933 (e foi reduzida em 292 pontos base durante o plano). Hoje é virtualmente zero.

As expectativas positivas com o novo governo de Abe levaram o índice acionário Nikkei a subir de 8,8 mil pontos em outubro para acima de 11 mil pontos em fevereiro, sendo que no mesmo período o iene enfraqueceu de 78 ienes por dólar para 93 ienes por dólar.

Uma ressalva feita por Richard Koo, chefe do Instituto de Pesquisa do Nomura, em artigo pessoal, é que a recente desvalorização do iene e a alta da bolsa foi causada primeiramente pelos investidores externos, através dos "hedge funds" nos EUA e no Reino Unido. Portanto, é cedo para dizer que essa tendência de depreciação perdurará e se as políticas, afinal, serão tão eficientes como na década de 30.

Fonte: Valor