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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fundos japoneses agora enfrentam perdas no Brasil

O caso de amor entre os pequenos investidores do Japão e os ativos brasileiros tem sido intenso nos últimos dois anos e meio e levou ao acúmulo de quase 8 trilhões de ienes (US$ 104,3 bilhões) de investimentos em fundos mútuos relacionados à maior economia da América Latina, segundo a Lipper, empresa que monitora o comportamento de fundos. Mas agora dúvidas vêm surgindo em relação à longevidade dessa relação.

Esses fundos sofreram um golpe duplo. A recente onda de aversão a risco levou a grandes vendas de ativos de mercados emergentes. Há ainda a valorização do iene a patamares não vistos desde a Segunda Guerra Mundial, em comparação ao dólar, e uma desvalorização recente do real brasileiro.

Analistas afirmam que muitos investidores japoneses deverão sofrer perdas com seus investimentos nos mercados emergentes. A atração inicial dos fundos brasileiros, que não existiam no Japão antes da crise do Lehman Brothers, é clara. A promessa de uma economia em crescimento acelerado, que deverá se beneficiar por ser a sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e da Olimpíada de 2016, era atraente demais e familiar demais para ser desperdiçada pelos japoneses, que lembraram a história de crescimento de seu próprio país na década de 1960.

A enorme diferença dos juros entre os dois países (0,1% e 12,5%) também contribuiu para essa atração. Entretanto, entre o fim de junho e 12 de agosto, todos os 111 fundos dirigidos para os investidores japoneses cujo tema é o Brasil, com exceção de seis, viram os valores líquidos de seus ativos encolher, de acordo com a Lipper.

Embora os investidores japoneses estejam saindo das ações brasileiras há cerca de um ano - levando a uma queda nos valores líquidos dos patrimônios dos fundos de ações -, eles vêm se dirigindo para os fundos de cobertura de câmbio. Há fundos em que os ativos subjacentes normalmente não são denominados em real, sendo na verdade bônus de alto rendimento denominados em dólar, imóveis ou commodities.

Mas para proporcionar um reforço adicional aos retornos, os fundos investem no real por meio de "non-deliverable forwards", ou NDFs - derivativos que permitem aos investidores especular com uma moeda local a distância (offshore). Esses produtos respondem por pelo menos 5,5 trilhões de ienes dos fundos totais, afirma a Lipper, e os valores líquidos dos ativos de 47 de um total de 67 desses fundos caíram 10% ou mais entre o fim de junho e 12 de agosto.

O próprio tamanho dos investimentos japoneses nesses fundos significa que isso poderá ter um efeito significativo sobre o mercado de NDF em real se houver uma onda de vendas súbita, porque as medidas recentes do Brasil para conter a alta do real pioraram a liquidez do mercado, segundo analistas. "Os participantes do mercado estão nervosos uma vez que isso poderá afetar os mercados de NDF", afirma Junya Tanase, uma estrategista de câmbio do J.P. Morgan.

Para Masatsugu Yamamoto, um gestor de fundos sênior da Diam Asset Management, a maior preocupação é se a aversão global ao risco piorar muito e mandar o iene para níveis em torno de 60 por dólar. "O ponto que os clientes estão observando mais no momento é se o valor líquido de seus ativos vai cair mais por causa do iene forte", diz Yamamoto. Seu fundo de cobertura cambial de 100 bilhões de ienes ainda tem captações diárias de 300 milhões de ienes. "Há investidores divergentes comprando de acordo com as quedas de momento."

A história do Brasil permanece intacta, afirma Yamamoto. "Se os investidores estivessem preocupados com o Brasil, os bônus soberanos do país estariam sendo vendidos em massa, mas não é o caso." Os pequenos investidores japoneses parecem estar entrando em uma fase mais sólida de suas relações com o Brasil. Mas este casamento poderá passar por fases difíceis no futuro.

Fonte: Valor