Algumas das maiores empresas japonesas de vários setores deixaram clara a fragilidade da recuperação dos negócios no país ontem. Panasonic Corp., Honda Motor Co., All Nippon Airways Co. e Nippon Steel Corp. abandonaram suas tradicionais projeções de resultado para o ano nos balanços que divulgaram.
Além dos desafios de um iene forte e de uma economia interna frágil, o terremoto do mês passado forçou muitas empresas japonesas a lidar com instalações danificadas, dificuldades na cadeia de suprimento e oferta de energia instável por causa dos danos a usinas nucleares no nordeste do país.
O terremoto e o tsunami de 11 de março ocorreram quando restavam apenas três semanas no ano fiscal japonês, de modo que o impacto do desastre nos resultados foi apenas moderado. Os efeitos serão mais pronunciados nos próximos trimestres, quando atrasos na produção chegarem às vendas e criarem escassez de oferta no país e no exterior.
A fabricante de eletrônicos Panasonic informou ontem que prevê escassez de peças como microcontroladores e condensadores que resultarão em vários bilhões de dólares em receita perdida. Nas últimas três semanas de março, a Panasonic informou que o desastre aumentou seu prejuízo em 19 bilhões de ienes (US$ 232 milhões). A empresa, que anunciou prejuízo trimestral de 40,7 bilhões de ienes, informou que planeja cortar 17.000 empregos nos próximos dois anos.
A oportunidade perdida pela Panasonic ajudará suas rivais estrangeiras, como as coreanas Samsung Electronics Co. e LG Electronics Inc., que já a superaram em vendas de TVs de tela fina e eletrodomésticos.
"O Japão está numa posição muito difícil por causa do terremoto, mas a concorrência acirrada nunca para fora do Japão, tanto nos países desenvolvidos quanto nas economias emergentes", disse o presidente da Panasonic, Fumio Ohtsubo, numa coletiva de imprensa.
Antes dos desastres do mês passado, as empresas japonesas, especialmente as fabricantes de eletrônicos, estavam conseguindo uma recuperação dos lucros depois de fortes prejuízos durante a crise financeira mundial. Muitas reduziram custos com corte de empregos e fechamento de fábricas.
A batelada de resultados divulgados ontem ocorreu ao mesmo tempo em que o governo informou que a produção industrial caiu 15,3% em março, o maior declínio mensal desde que o país começou a divulgar os dados, em 1953. O consumo das famílias caiu 8,5%, também um recorde.
No setor automobilístico, as empresas têm enfrentado dificuldade para comprar componentes essenciais, como pigmentos, itens de borracha e eletrônicos.
Isso forçou a Honda a adiar o lançamento de veículos e pode deixar a empresa com uma escassez de carros nos próximos meses. Ontem, a Honda informou que o impacto do desastre tirou 45,7 bilhões de ienes do lucro do quarto trimestre. A produção em algumas das fábricas da Honda está em 50% da capacidade. Os cortes de produção e a falta de peças vão demorar para afetar o estoque da empresa e pode ser só no terceiro trimestre do ano que as operações da montadora no exterior sintam o efeito, informou ela.
A empresa anunciou que o lucro do quarto trimestre fiscal, encerrado em março, caiu 38%, para 44,55 bilhões de ienes.
A Nippon Steel, por sua vez, tocou num tema não relacionado aos desastres que pode afetar os lucros das empresas. A maior siderúrgica japonesa, sócia da Usiminas, informou que vai tentar aumentar os preços do aço para compensar a alta das matérias-primas.
Fonte: Daisuke Wakabayashi, The Wall Street Journal, de Tóquio