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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Com projetos bilionários, japoneses reagem ao avanço da China no Brasil

Os japoneses não assistem impassíveis a aproximação entre os governos do Brasil e da China, como ficou evidente na visita do presidente chinês, Hu Jintao ao Brasil, na semana passada, para encontro dos quatro grandes países emergentes conhecidos como BRICS (Brasil, Índia, China e Rússia): assim como os chineses, que anunciaram contratos bilionários com empresas brasileiras, uma missão japonesa, com 20 executivos de grandes empresas e grandes organizações estatais do Japão, visitou Brasília no fim da semana, para negociar aumento da presença japonesa no país.

Enquanto os BRICs anunciavam um acordo de intenções para coordenar ações de seus bancos de desenvolvimento, o Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC, da sigla em inglês), que já tem acordo semelhante com o BNDES, informava ao governo que, após firmar dois contratos com a Petrobras, de US$ 1 bilhão no total, em março, pretende financiar mais dois projetos que somam outros US$ 1 bilhão ainda neste ano só com a estatal.

O assédio das empresas japonesas ao Brasil tem forte apoio do Estado japonês, não só financeiro. Em maio, uma missão de japoneses interessados em investir no país em projetos de desenvolvimento sustentável virá ao Brasil para contatos com o BNDES, a Petrobras, a Vale e outras companhias. Em setembro, uma outra missão visitará o Japão, com empresas brasileiras, patrocinada pela Japan External Trade Organization (Jetro). " Estamos discutindo um possível acordo sobre bitributação, e está crescendo nosso entendimento mútuo " , afirma o diretor da divisão de América do ministério de Economia, Comércio e Indústria do Japão, Yakushi Akahoshi.

Os japoneses lembram que ainda há queixas dos empresários do país ao que consideram barreiras do Brasil ao investimento e comércio. Mas o empenho das instituições financeiras, como o JBIC, é um fato notável, quando se lembra que, na década passada, a moratória da dívida externa decretada em 1986 pelo Brasil ainda traumatizava os japoneses e inibia empréstimos do Japão ao Brasil. Em março, o JBIC emprestou à Petrobras US$ 700 milhões para um navio de processamento e estocagem de óleo (FSPO) que a estatal, com a japonesa Modec, usará no campo de Tupi, no litoral santista, segundo informou o representante do banco no Rio de Janeiro, Takahiro Hosojima.

Outros US$ 300 milhões foram destinados a uma plataforma de perfuração para operação conjunta da Petrobras e Mitsui na África - com complementação de bancos japoneses, esse contrato pode chegar a quase US$ 500 milhões. Esperam assinatura dois contratos de financiamento de US$ 500 milhões. O JBIC estuda mais dois empréstimos, de US$ 500 milhões cada, para financiar outros FSPO da Petrobras com companhias japonesas, diz Hosojima, que participa do grupo de trabalho em energia, recursos naturais e infra-estrutura do comitê de promoção de comércio e investimentos Brasil-Japão.

" Estamos conversando com a Vale com quem firmamos um memorando de entendimento e pretendemos financiar a empresa de US$ 3 bilhões no máximo durante quatro anos " , acrescenta o executivo do JBIC. " Estamos na fase de identificação de projetos concretos que forneçam vantagem a empresas japonesas " . O acordo com a Vale é um modelo do tipo de atuação dos japoneses: assinado em 2008, dois anos depois se aproxima da fase em que representará desembolso real para empresa brasileira; e, como a maioria dos projetos do JBIC no Brasil, está concentrado nas áreas de recursos naturais e infra-estrutura.

A atuação dos japoneses no Brasil, assim como a dos chineses, tem a característica de reforçar o país como supridor de matérias primas e insumos para as economias asiáticas. Os japoneses se comprometeram com US$ 200 milhões para o trecho Oeste do Rodoanel, em São Paulo por exemplo, e têm interesse em financiar projetos siderúrgicos, especialmente na Usiminas, que tem a Nippon Steel como sócia. Os próprios japoneses reconhecem que não há expectativas de mudança nesse modelo em médio prazo, embora o governo brasileiro tente atrair os japoneses para investimentos no parque produtivo brasileiro.

No setor de serviços, o JBIC chegou a financiar no passado o setor de telefonia, com empréstimos de quase US$ 1 bilhão à Brasil Telecom, mas nada está previsto para este ano fiscal no setor. Neste ano, o JBIC ganhou novo mandato e um orçamento de US$ 5 bilhões para projetos ligados ao meio ambiente em todo o mundo. No Brasil, os executivos do banco estão interessados em geração de energia com etanol e biomassa, além de fontes alternativas como energia eólica e solar. Ainda sob sigilo comercial, uma empresa japonesa vem discutindo com possíveis sócios brasileiros um projeto de geração de energia com turbinas movidas a etanol.

" Nossa missão teve objetivo de reduzir obstáculos ao investimento " , diz Hosojima. Um dos motivos de queixa do Japão é a lei brasileira que fica em cinco anos, com possível prorrogação de mais cinco, o prazo para firmas estrangeiras transferirem tecnologia a companhias brasileiras (ao fim do prazo, a parceira brasileira passa a ser detentora da tecnologia, livre de royalties ou barreiras). " O prazo atual para transferência de tecnologia no Brasil é insuficiente, e é grande a burocracia dificulta " , comenta o executivo do JBIC.

Os obstáculos no Brasil para investimentos japoneses foram um dos principais temas do encontro da missão japonesa com o governo japonês. Os japoneses ouviram dos brasileiros pelo menos uma boa notícia para os interesses das empresas do Japão: no caso dos contratos de transferência de tecnologia, as firmas estrangeiras poderão estabelecer por contrato prazos superiores a dez anos para a proibição de venda dessa tecnologia a terceiros.

Fonte: Valor Online