Às 20h deste domingo, quando o Rio de Janeiro exibiu ao mundo sua despedida solene como capital olímpica, as atenções da humanidade atravessaram a Terra e pousaram exatamente no outro extremo do globo, onde já era 8h de segunda-feira. Lá, em Tóquio, antípoda do Rio não só na geografia, mas em aspectos culturais, econômicos e sociais, os Jogos de 2020 já estarão com suas engrenagens em andamento.
Os japoneses montaram um planejamento que visa repetir o feito de 1964, quando sua capital recebeu a Olimpíada pela primeira vez: aproveitar a competição para projetar o país no mundo, com ênfase na tecnologia e na infraestrutura. Se há cinco décadas o planeta ficou espantado com o shinkansen, o trem-bala japonês, a aposta para 2020 inclui táxis sem motorista, robôs realizando o papel de voluntários e trens flutuantes capazes de atingir a velocidade de 600km/h.
Um diferencial em relação a 1964 é que, desta vez, a preparação tem uma forte pegada sustentável. Tóquio 2020 almeja sediar os Jogos do combate ao desperdício e da emissão zero de poluentes, com forte investimento em energias alternativas — a Vila Olímpica, por exemplo, será totalmente movida a hidrogênio.
Já utilizado como estádio olímpico em 1964, será remodelado e terá capacidade para 80 mil espectadores. A previsão é que esteja pronto em 2019, para o mundial de rúgbi
Uma das estratégias básicas para evitar esbanjamentos consiste na reciclagem de estruturas já existentes, muitas delas construídas para o evento de 52 anos atrás. Dos 37 locais de competição, 15 (41%) estão nessa categoria. Segundo os organizadores, o reaproveitamento permitirá uma economia de US$ 2 bilhões. No entanto, eles já se mostram preocupados com o estouro do orçamento em algumas estruturas temporárias em construção.
O Estádio Olímpico, que sedia as cerimônias de abertura e encerramento, desempenhou um papel central no posicionamento de Tóquio em relação aos custos aceitáveis. Os organizadores decidiram colocar abaixo a estrutura usada em 1964 (a demolição foi completada em maio do ano passado) e erguer no mesmo local uma nova arena.
Inicialmente, foi escolhido um esfuziante e futurístico projeto assinado pela célebre arquiteta Zaha Hadid. Quando os japoneses souberam que o custo da empreitada, mesmo depois de eliminados luxos como o teto retrátil, chegariam a US$ 2,1 bilhões, a gritaria foi enorme. O valor era 50% superior ao orçamento inicial e pelo menos três vezes maior do que qualquer nova estrutura construída nos Jogos de Londres, Pequim e Sidney.
Como resultado, o primeiro-ministro Shinzo Abe deixou as plantas originais de lado e lançou um novo concurso, em busca de um estádio mais simples e barato. No fim do ano passado, saiu vencedor o projeto do arquiteto nipônico Kengo Kuma, com 68 mil lugares (uma redução de 12 mil em relação ao anterior), 49 metros de altura (21 metros a menos) e um design algo sem graça, que levou os japoneses a batizá-lo de “o hambúrguer”. O custo, no entanto, foi cortado quase pela metade. Por causa dos percalços, o cronograma de reconstrução atrasou, e a expectativa é que a obra esteja concluída só no final de 2019.
Um outro compromisso dos organizadores é o de realizar Jogos compactos, com a grande maioria das arenas (28 das 37) localizadas a no máximo oito quilômetros da Vila Olímpica, uma forma de evitar deslocamentos custosos e poluentes. São duas áreas principais de competições. Uma delas é o centro da cidade, onde estão o Estádio Olímpico e muitas das construções usadas em 1964. A outra é contígua e fica junto à baía de Tóquio. Na intercessão de ambas, será levantada a Vila Olímpica.
Fonte: Click RBS